Sunday, January 23, 2005

Assalto ao Aeroporto II


O voo regular entre Frankfurt e o Porto de todas as Sextas às 21:00 horas é composto, maioritariamente, por homens dos sistemas de informação e engenharias informáticas, alguns gestores, alguns estudantes – lá se vai o tempo em que era um luxo para qualquer estudante ter uma BMX ou, mais tarde, uma motorização de uma Zundap 3 -, poucos professores e, nenhuns advogados. Este facto, acompanhado por um outro de manifestação muito maior, fez-me concluir que as companhias aéreas, no momento que este momento faz, não servem os reais interesses dos seus clientes e, assim sendo, perdem oportunidades e mais valias que eu, como um possível agente de marketing, de forma alguma perderia. Antes de vos descrever a minha estratégia deixem-me dizer que o facto de evidência maior em que se baseia a minha tese é composto pela trilogia: Ar de cansaço dos passageiros – a exigir sessões de relaxamento; Calvície ou inícios de calvície – comprovando uma desorganização hormonal; e, O simples facto de ser um avião repleto de portugueses – há um manifesto florido de bigodes naquele voo. Esta trilogia torna o grupo descrito no conjunto de indivíduos com maior propensão para a jorda da Península Ibérica e, talvez mesmo, da Europa. Ora, um grupo javardo como este requer e justifica uma nova estratégia de cativação de clientes – não fossem eles a razão de uma qualquer empresa. Outro facto que motiva a revisão das políticas das companhias aéreas é que, hoje em dia - tirando a parte do catering –, andar de avião é muito pior do que andar de autocarro - no autocarro dá, pelo menos, para o Silva ir dar a reconfortante mijinha entre os codessos!
A minha estratégia passaria por subir o preço dos bilhetes para o triplo do seu valor – calma, a medida é justificável se apurarmos o menu das mais-valias! Apresento pois o conjunto de factores críticos para o sucesso na reversão do mau serviço das nossas companhias aéreas, em quatro parâmetros, a saber: Ambiente a bordo; Animação; Preparação para a aterragem; e, Recepção.
Ambiente a bordo: Criar uma disposição quadrangular dos assentos em volta de mesas, tipo bar. Este arranjo assegurará o convívio entre os passageiros. A luz deve estar a meia luz porque uma luz a luz inteira fere a vista de quem se apresenta com ar cansado. Pelo ar condicionado deve ser libertado odores exóticos de tempo a tempo: Frutos silvestres, brisas marinhas, et caetera. Imagens e sons subliminares devem passar mensagens tipo: “Coma, beba e copule! Coma, beba e copule!”. A música ambiente deve ser colocada por DJs convidados.
Animação: As manobras descolagem e de aterragem devem ser executadas, após rigoroso sorteio, pelos passageiros - numa boa política de marketing tem que haver sempre um bom sorteio. Estou já a imaginar os coros: “Senhor motorista, por favor, carregue mais no acelerador!”.
Para abrir a animação, propriamente dita, um show de mulatas ao som de urras gritados pela malta, depois de, obviamente, terem sido distribuídas as cervejas e os amendoins. Aliás, o catering à base de amendoins e cervejas para além de reduzir em muito as despesas com alimentação e aumentar a satisfação dos clientes viria substituir o tradicional bifinho de vaca ou de peru ou ainda de frango que, como é sabido, é coisa de tótó.
A tripulação masculina nos momentos mortos poderia vestir-se de palhaços e cuspir fogo... Atenção, não abusar muito do uso desta animação por causa dos inerentes riscos com o combustível!
As visitas guiadas ao cockpit com opção de test-drive e outras surpresas devem também ser incentivadas. Os portugueses gostam de sentir entre mãos o poder das máquinas: Vrun! Vrun! Vrun!
Toda a animação, para além de ser entremeada com uma feijoada ou um cozido à portuguesa para ir habituando o estômago à comidinha caseira, deve ser fortemente baseada em formatos demonstração, por exemplo, um strip-tease apresentado por uma personalidade de renome na arte, uma sessão de danças latinas, et caetera.
Preparação para a aterragem: 45 minutos antes da aterragem arrancamos com a estonteante demonstração de Dutty Frees. Sabe-se que vender relógios, perfumes e outras bijuterias mesmo que livre de impostos requer um certo ânimo. Neste sentido, e para colmatar o deslize que essa área do negócio apresenta, enquadra-se bem um desfile em lingerie – que poderia também ser leiloada na mesa mais central do avião. “Tira! Tira! Tira!” -. As promotoras dos objectos desfilariam pelas mesas exibindo relógios, brincos, pulseiras, perfumes, et caetera. É sabido que a força do marketing directo tem retornos directos e, para além disso, a apreciação de um bom perfume, de um bom relógio ou de um simples piercing só poderá ser correctamente degustada com a sua demonstração in-loco e ao vivo.
Recepção: A viagem terminaria com a recepção apoteótica dos passageiros por uma das claques da cidade, à vez para não criar confusões.
Agora pergunto: Estaria ou não na disposição de pagar três vezes mais por uma viagem de avião? Ele há cada uma!

1 Bocas:

Anonymous Anonymous Disse...

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4:23 PM  

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